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CANABIDIOL COMO OPÇÃO PARA TRATAMENTO DA DOENÇA DE PARKINSON

CANABIDIOL COMO OPÇÃO PARA TRATAMENTO DA DOENÇA DE PARKINSON

O Canabidiol (CBD) atua no Sistema Nervoso Central e contribui para a redução dos tremores e sintomas motores dos pacientes com Doença de Parkinson.

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que, cerca de 1% da população mundial, com idade acima de 60 ou 65 anos foram diagnosticados com Doença de Parkinson, em uma prevalência de 100 a 200 casos por 100.000 habitantes. No Brasil, estima-se que o número de pacientes supere 200 mil pessoas. Em casos mais raros, o surgimento da doença pode acontecer antes dos 60 anos e pode haver algum fator genético associado.

A Doença de Parkinson é um transtorno crônico, progressivo e neurodegenerativo, causado pela deterioração de neurônios dopaminérgicos da substância negra cerebral e pelo comprometimento do núcleo dorsal do vago, sistema olfatório e alguns neurônios periféricos. Esses fatores acarretam na degeneração irreversível dos neurônios (morte das células) que produzem o neurotransmissor Dopamina (substância química que interfere na comunicação entre as células nervosas).

O diagnóstico depende do surgimento de características motoras específicas, associadas a alguns sintomas não motores, que tendem a ser tão incapacitantes quanto os sintomas motores. Os medicamentos que aumentam as concentrações ou estimulam os receptores de dopamina são os principais no tratamento para os sintomas motores, mas não há tratamentos neuroprotetores, capaz de reverter a doença. 

Início dos Sintomas

Os primeiros sintomas podem surgir entre 10 a 15 anos antes das manifestações perceptíveis. A doença afeta os movimentos, causa tremores nas extremidades, inconstância postural e desequilíbrio, lentidão de movimentos, rigidez muscular, alterações na fala e na escrita. Em muitos casos, podem ocasionar a diminuição do olfato, distúrbios do sono, alteração do ritmo intestinal e depressão.

O uso do Canabidiol é prescrito para diversas patologias e tem apresentado resultados promissores no tratamento de pacientes com Doença de Parkinson, pois fornece alívio dos sintomas, principalmente, nos tremores involuntários, dores musculares e controle da depressão.

A Cannabis Medicinal no tratamento da Doença de Parkinson

Vários sintomas não motores não respondem à terapia medicamentosa e alguns podem ter seus efeitos agravados, causando grande implicação na qualidade de vida do paciente. Quando isso acontece, o tratamento alternativo é recomendado aos pacientes com comprometimento motor, como demência, depressão, ansiedade e dor.

A Cannabis Medicinal é um tratamento alternativo utilizado no controle dos sintomas de diversas doenças. Em geral, a prescrição dos medicamentos à base de Cannabis ocorre quando o paciente apresenta sintomas graves e já foram esgotados todos os recursos do tratamento convencional, obtendo-se pouco e nenhum avanço.

O medicamento tem apresentado resposta significativa, na redução dos sintomas da Doença de Parkinson sem comprometer sua função cognitiva e motora dos pacientes, gerando expressiva melhora na qualidade de vida.

O que é o Canabidiol?

O Canabidiol (CBD) é um dos compostos extraídos da planta Cannabis, conhecida popularmente como Maconha. A composição química da planta determina a proporção de Canabinoides e atuam diretamente no Sistema Nervoso Central.

O CBD interage com receptores específicos, como os receptores de serotonina, que alteram a atividade cerebral e reduzem os sintomas da doença. Além de aumentar os níveis de Endocanabinoides, o CBD pode oferecer atividade neuroprotetora em várias doenças neurodegenerativas, a partir das suas propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes.

Funcionamento dos receptores Endocanabinoides no tratamento da Doença de Parkinson

Canabinoides e outros componentes do Sistema Endocanabinoide são conhecidos por terem efeitos neuroprotetores. O Sistema Endocanabinoide  compõe uma rede modulatória complexa envolvida no desenvolvimento do cérebro, memória, controle de movimento, produção de hormônios e reações imunológicas.

A relação entre o sistema endocanabinoide e a Doença de Parkinson pode ser observada nos receptores CB1 e CB2, que participam da patogênese múltipla da doença. Os agonistas ou antagonistas dos receptores CB1 e CB2 são promissores no tratamento da DP.

São os receptores Endocanabinoides que controlam os movimentos musculares e funcionam como antiepilépticos, sedativos, ansiolíticos, antioxidantes e neuroprotetores, pois se ligam aos receptores Canabinoides CB1, no Sistema Nervoso Central (SNC).

O impulso ao receptor CB1 provocado pela Cannabis Medicinal pode amenizar os tremores. A ação dos Canabinoides sugere que ocorram efeitos indiretos sobre esses receptores, uma vez que pessoas com Doença de Parkinson têm menos receptores CB1, que as pessoas sem a doença. 

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Interação THC e CBD

O THC e o CBD podem fornecer neuroproteção e ação antioxidante, contra a degeneração progressiva de neurônios em pacientes com Doença de Parkinson e alívio de sintomas não motores, especificamente humor deprimido, fadiga e comprometimentos de memória.

Os efeitos colaterais variam de acordo com os índices de THC e CBD e podem incluir fadiga, tontura, náusea, ansiedade, dor de cabeça, alterações visuais, cognição prejudicada ou palpitações. A Cannabis Medicinal como agente terapêutico ajuda a minimizar as consequências adversas. 

Qual o protocolo de tratamento convencional?

Estudos observacionais sugerem que os Canabinoides podem melhorar alguns sintomas motores e não motores, associados à Doença de Parkinson. Não existe um protocolo padrão para o tratamento da Doença, uma vez que os sintomas são individuais e podem estar relacionados aos hábitos e ao estilo de vida do paciente.

As várias formas de tratamento incluem o uso de medicamentos neuroprotetores, que bloqueiem a diminuição progressiva de dopamina, que é o responsável pelos circuitos nervosos, mas não há medicamento capaz de reverter os efeitos da doença.

Assim, o tratamento psicoterápico é indicado para controlar a depressão, perda de memória, surgimento de demências e atuam combinados com a interação medicamentosa. Em alguns casos é necessária a indicação de fármacos antidepressivos ou psicotrópicos.

Riscos inerentes ao uso de Canabidiol, no tratamento da Doença de Parkinson

O Canabidiol pode aliviar as reações neurológicas da Doença de Parkinson, mas a eficácia dependerá de outros fatores, como o estágio da doença. O uso crônico de Cannabis Medicinal pode aumentar o risco de transtornos de humor e câncer de pulmão.

Não há um consenso na comunidade médica, sobre os benefícios do uso de Canabinoides em pacientes com Doença de Parkinson, pois há perda dos neurônios responsáveis pela função motora e, embora os Canabinoides tenham potencial para restabelecer parcialmente os neurônios danificados e melhorar a condução nervosa, não há benefícios relevantes no aspecto motor.

Apesar dos estudos existentes sobre a ação terapêutica do Canabidiol no tratamento da Doença de Parkinson, um fator importante é que o THC pode predispor efeitos adversos na parte cognitiva e ocasionar alucinações, sendo recomendado como terapia complementar, quando todas as opções de tratamento já tiverem se esgotado, sem alcançar o resultado esperado.

Conclusão

O tratamento inicial da Doença de Parkinson é feito com medicamentos, que devem bloquear a progressão dos sintomas, considerando-se o estágio da doença e os efeitos colaterais, porém, diversos pacientes não apresentam resposta que resulte em melhora significativa dos sintomas e da qualidade de vida.

Estudos mostraram que Canabidiol extraído da planta Cannabis pode aliviar os sintomas debilitantes do Parkinson. O CBD não produz os efeitos colaterais adversos dos medicamentos e não provoca o efeito psicotrópico do THC na maconha.

Nos últimos anos, tem havido um grande interesse no potencial dos canabinoides como uma ferramenta terapêutica para limitar os efeitos prejudiciais da neuroinflamação e a morte neuronal associada em doenças neurodegenerativas como a Doença de Parkinson.

O Canabidiol tem demonstrado bons resultados nos controle de sintomas, especialmente os tremores, dores musculares, distúrbio de sono e ansiedade, mas não existe uma dosagem padrão segura, já que cada paciente precisa de avaliação médica para que seja prescrito o tratamento e tipo de medicamento adequado.

Embora as descobertas pré-clínicas promissoras, os pesquisadores não sinalizam benefícios conclusivos sobre o usa da Cannabis Medicinal, no tratamento de pacientes com Doença de Parkinson.

REFERÊNCIAS

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