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A História da Cannabis

A História da Cannabis

Desde a antiguidade, a planta Cannabis foi cultivada e amplamente utilizada para diversas finalidades, por muitas civilizações.

Os primeiros registros arqueológicos foram encontrados na Ásia, região que compreende o atual território da China, onde o uso da planta tinha finalidades, principalmente, medicinais.

Devido às propriedades psicoativas, que agem diretamente no sistema nervoso central e, de acordo com a quantidade e capacidade de metabolização do organismo, podem alterar o estado de consciência, o uso tornou-se popular para o tratamento das enfermidades.

Os medicamentos e procedimentos utilizados pelos curandeiros que exerciam a medicina eram registrados em um livro denominado Farmacopeia.

Nesse mesmo período, o cultivo da planta Cannabis se expandiu para outros territórios e alcançou outras civilizações, que também se beneficiaram das suas propriedades medicinais, além do uso em rituais religiosos e na fabricação de produtos têxteis.

Os egípcios eram considerados exímios na medicina e possuíam técnicas e métodos muito avançados para a época, a exemplo do processo de mumificação, desenvolvido para preservar o corpo após a morte. Eles associavam o aparecimento das doenças às manifestações dos maus espíritos e a medicina era praticada combinada aos rituais magísticos.

Muitas descobertas sobre os avanços científicos e culturais da civilização do antigo Egito foram possíveis, em consequência dos registros nos manuscritos encontrados pelos arqueólogos, entretanto, acredita-se que muitas informações tenham desaparecido durante o incêndio que destruiu a Biblioteca Real de Alexandria, no ano 48 a.C.

A Índia foi outra civilização que, na antiguidade, dispunha de muitos avanços na medicina. Os registros encontrados no Atharvaveda, livro sagrado dos hindus remontam às práticas medicinais e sagradas, que descreveram o uso da planta Cannabis, como eficaz no tratamento de diversas enfermidades.

A Cannabis se difundiu pela Ásia, África e Europa e seu uso medicinal se popularizou entre os intelectuais franceses e médicos ingleses, na iminência de ser prescrita para o tratamento da maior parte das doenças. Os registros farmacológicos, desde o início do século I d.C. até o século XVIII d.C. descreveram o uso medicinal da Cannabis.

Os registros mais recentes descreveram a descoberta da planta no Brasil, trazida pelos navios negreiros, que transportaram negros africanos para serem escravizados, sendo disseminada, rapidamente, entre os indígenas, que passaram a cultivá-la.

Até a década de 1920, a pesquisa científica e o uso da planta Cannabis nos tratamentos medicinais não possuíam controle rigoroso e o uso recreativo era popularizado, pelas suas propriedades psicotrópicas.

Em 1924, durante a II Conferência Internacional do Ópio, realizada na cidade de Genebra, na Suíça, as delegações de 45 países aceitaram a incitação do delegado brasileiro, o médico psiquiatra Dr. Pernambuco, que declarou que a Cannabis possuía propriedades entorpecentes mais agressivas que o ópio, dando início à criminalização no mundo.

Apesar da proibição, as pesquisas científicas nos laboratórios de química medicinal evoluíram e, em 1963, os médicos pesquisadores da faculdade de Medicina da Universidade Hebraica de Jerusalém identificaram a existência do Sistema Endocanabinoide e conseguiram isolar a substância Canabidiol (CBD) e, posteriormente, em 1964, o delta 9-tetrahidrocanabinol (THC).

Em 1981, os benefícios do CBD no tratamento de crises convulsivas foram demonstrados pelo pesquisador Prof. Dr. Elisaldo Carlini, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).

O século XXI trouxe avanços no reconhecimento das propriedades medicinais e descriminalização da Cannabis. Países como Uruguai e Canadá, legalizaram o uso recreativo, estabelecendo novas regras no controle regulatório. EUA e Portugal implementaram Legislação que regulamenta o uso da Cannabis.

As experiências bem sucedidas dos outros países reverberaram nas decisões sobre a liberação no Brasil. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) regulamentou, em 2019, a fabricação e comercialização dos produtos à base de Cannabis e estabeleceu as regras para a normatização dos produtos.

Ano 3.000 a.C. – Primeiras evidências do uso medicinal da Cannabis pelas antigas civilizações chinesas, indianas e egípcias.

Séc. VIII a.C. – Primeiras evidências do uso da Cannabis na Europa e Ásia Oriental.

Séc. VI a.C. – Primeiros registros escritos do uso medicinal da Cannabis.

Séc. XIX – O cânhamo Indiano (variedade da Cannabis Sativa) foi utilizado em tratamentos relacionados aos transtornos convulsivos e ao tétano.

1851 – A utilização medicinal no tratamento anticonvulsivo, seu uso analgésico e hipnótico foram inseridos na 3ª edição da Farmacopeia Americana (livro que contém as formas farmacêuticas, fármacos, produtos biológicos, etc.) e foi detalhado o preparo do extrato a partir das flores da Cannabis.

1899 – Pesquisadores isolaram o agente ativo puro Cannabidiol.

1900 – Diversos Estados americanos proibiram o uso da Cannabis.

1937 – Os EUA aprovaram uma Lei Federal que proibia o uso da Cannabis.

1942 – A Cannabis foi retirada da Farmacopeia Americana, por iniciativa da Associação Médica Americana.

1964 – O Tetrahidrocannabinol (THC) foi isolado e sintetizado.

Século XXI – Países como Canadá, Uruguai, EUA e Portugal implementaram Legislação que regulamenta o uso da Cannabis.

Fonte 1: Conselho Federal de Medicina. Tragédia da Maconha: causas, consequências e prevenção. Comissão para Controle de Drogas Lícitas e Ilícitas. Brasília: CFM, 2019.

Fonte 2: SECHAT. Uma breve história de 12 mil anos sobre o uso medicinal da Cannabis. 2020. Disponível em: https://sechat.com.br/uma-breve-historia-de-12-mil-anos-sobre-o-uso-medicinal-da-cannabis/.

Fonte 3: ZUARDI, A. W. History of cannabis as a medicine: a review. Brazilian Journal of Psychiatry, v. 28, n. 2, p. 153-157, 2006.

Fonte 4: CARLINI, Elisaldo Araújo. The history of marihuana in Brazil. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 55, n. 4, p. 314-317, 2006.