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Reviews e Análises

CANABIDIOL PARA EPILEPSIA EM QUADROS GRAVES

CANABIDIOL PARA EPILEPSIA EM QUADROS GRAVES

Crises convulsivas epilépticas, consideradas intratáveis, podem ser controladas com Cannabis Medicinal

O uso do Canabidiol para Epilepsia e no tratamento de doenças neurológicas reduz a gravidade e a frequência das crises convulsivas, em casos de distúrbios graves de epilepsia.

Doenças neurológicas são decorrentes de algum distúrbio ou alteração nas funções cerebrais e comprometem o Sistema Nervoso Central, de forma total ou parcial.

Estima-se que 0,5% a 1% da população mundial possua epilepsia ativa e cerca de 30% dos pacientes são refratários (que continuam a ter crises, sem remissão, apesar de tratamento adequado com medicamentos anticonvulsivantes). Pacientes que permanecem apresentando crises epilépticas apesar do uso de pelo menos dois antiepilépticos, tanto em combinação, como uso restrito, serão considerados refratários ao tratamento medicamentoso. No Brasil, a incidência de pacientes com epilepsia ativa varia entre 11,9 e 16,5 a cada 1.000 habitantes.

Organização Mundial de Saúde

A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica a epilepsia entre as doenças neurológicas mais comuns do planeta, sendo quase 80% dos casos registrados em países de baixa e média renda e três quartos das pessoas com a doença não recebem tratamento adequado.

A incidência de epilepsia é maior no primeiro ano de vida e volta a aumentar após os 60 anos de idade. Em cerca de um terço dos pacientes epilépticos os medicamentos antiepilépticos convencionais não apresentam resultados eficazes, além de desencadearem diversos efeitos colaterais associados, como osteomalácia e anemia.

A decisão pela escolha dos medicamentos ou qual a melhor abordagem terapêutica a se adotar, dependerá do tipo de epilepsia, extensão e grau de severidade da doença e, em muitos casos, o tratamento requer o uso de anticonvulsivos classificados como psicofármacos.

A epilepsia não tem cura, mas as crises epilépticas, normalmente, são controladas com medicamentos anticonvulsivantes. Em casos específicos, quando os remédios não são suficientes para controlar as crises, pode haver indicação cirúrgica, para controlar ou diminuir o número de crises epilépticas e favorecer o desenvolvimento da criança.

Esse é o modelo de tratamento convencional, mas existem tratamentos alternativos, indicados para pacientes diagnosticados com doenças neurológicas, que não apresentaram boa resposta às terapias tradicionais, como o uso de Canabinoides. Vamos entender como o Canabidiol atua no tratamento da epilepsia?

avaliação da epilepsia

Uso terapêutico da Cannabis Medicinal, para o tratamento de epilepsia

A Epilepsia compromete as atividades neuronais e estimula mudanças na atividade elétrica e química cerebral, gerando uma predisposição a crises convulsivas, que podem ser breves lapsos de atenção ou espasmos musculares mais prolongados, além de alterações nos aspectos cognitivo e social.

Os produtos purificados, à base de Canabidiol, não possuem atividade psicoativa, mas apresentam potencial antiepiléptico e Cannabis tem sido considerado como alternativa ao tratamento cirúrgico e à estimulação elétrica do nervo vago para esses pacientes.

O CBD ajuda a estimular a liberação de Endocanabinoides e a ligação de outras moléculas dentro do sistema. Geralmente, o CBD é utilizado associado a outros medicamentos para epilepsia e tem efeito, tanto antiepiléptico como potencializador dos medicamentos antiepilépticos tradicionais.

Aprovação do uso de Canabidiol pela US Food & Drug Administration (FDA) 

A US Food & Drug Administration (FDA) dos EUA aprovou, em 2018, o medicamento Epidiolex*(canabidiol) para o tratamento de convulsões associadas a duas síndromes de epilepsia – Síndrome de Lennox-Gastaut e Síndrome de Dravet, em pacientes a partir de dois anos de idade.

A FDA é responsável por supervisionar drogas nos Estados Unidos. Desde 1970, a Lei de Substâncias Controladas (CSA) estabeleceu classificações ou programações de medicamentos. O FDA é uma agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, que protege a saúde pública, garantindo a eficácia e segurança de medicamentos humanos e veterinários, vacinas e outros produtos biológicos para uso humano e dispositivos médicos.

O primeiro medicamento à base de Cannabis, aprovado pela FDA, representou um avanço e apoio às pesquisas científicas sobre o potencial uso medicinal dos produtos derivados da Cannabis, bem como especial atenção ao rigor, segurança, eficácia dos processos.  A análise do medicamento concluiu que os benefícios do produto superam os riscos conhecidos para o tratamento das crises de epilepsia.

Síndrome de Lennox-Gastaut e Síndrome de Dravet

O Canabidiol pode ser especialmente benéfico para duas formas raras de epilepsia, a Síndrome de Lennox-Gastaut e a Síndrome de Dravet. As Síndromes geralmente aparecem na infância, resistem ao tratamento e causam sintomas graves, incluindo convulsões.

A síndrome de Dravet é uma doença genética rara que surge durante o primeiro ano de vida e apresenta convulsões febris frequentes. Com o crescimento da criança, normalmente surgem outros tipos de convulsões, incluindo convulsões mioclônicas (espasmos musculares involuntários) e pode ocorrer estado de convulsão contínua com risco de vida, que exige cuidados médicos de emergência. 

Crianças com síndrome de Dravet, geralmente, apresentam baixo desenvolvimento da linguagem e das habilidades motoras, hiperatividade e dificuldade de se relacionar com outras pessoas.

A síndrome de Lennox-Gastaut tem início na primeira infância, entre os 3 e 5 anos de idade, e é caracterizada por vários tipos de convulsões, que fazem com que os músculos se contraiam de forma incontrolável.

Quase todas as crianças com síndrome de Lennox-Gastaut desenvolvem problemas de aprendizagem e deficiência intelectual. Muitos também atrasaram o desenvolvimento de habilidades motoras, como sentar e engatinhar. A maioria das pessoas com síndrome de Lennox-Gastaut requer ajuda nas atividades normais da vida diária.

O Canabidiol também apresenta resultados eficazes no tratamento de outros tipos de convulsões, podendo interagir potencialmente com outros medicamentos utilizados em epilepsia.

Crise de epilepsia

Uso pediátrico do Canabidiol – CBD – em pacientes com epilepsia

Crianças e adolescentes sofrem excessivamente com o estresse causado pelas crises, pelas limitações impostas pela doença e pelos efeitos adversos de fármacos antiepilépticos. O diagnóstico e classificação do tipo de convulsão devem ser precoces, para que sejam definidas as opções de tratamento mais adequadas.

A epilepsia mioclônica juvenil tem início na adolescência e é relativamente fácil de controlar, quando são evitados os fatores precipitantes de crises (como privação de sono, ingestão álcool e má adesão ao tratamento). O tratamento deve ser contínuo, pois o índice de recorrência de crises após a retirada de fármacos é superior a 90%.

O CBD é benéfico na redução da frequência de convulsões em crianças com epilepsia resistente ao tratamento, seja isoladamente ou como parte de um extrato de Cannabis enriquecido com CBD. Em pacientes com Síndrome de Dravet e Síndrome Lennox-Gastaut a eficácia do CBD de grau farmacêutico em crianças mostrou semelhança a outros anticonvulsivantes.

A resposta imediata foi uma melhora significativa na ocorrência de convulsões, pois a ação do CBD reduz as descargas elétricas cerebrais que ocorrem de forma irregular e desencadeiam as crises epilépticas.

Efeitos adversos de Medicamentos e do Canabidiol para Epilepsia

Em geral, ocorrem efeitos adversos relacionados aos medicamentos que tratam a epilepsia, como:

  • sonolência
  • sedação e letargia
  • enzimas hepáticas elevadas
  • diminuição do apetite
  • diarreia
  • irritação na pele
  • fadiga
  • mal-estar e fraqueza
  •  insônia
  • distúrbios do sono
  • infecções
  • lesão hepática.

Casos mais graves descrevem pensamentos sobre suicídio, tentativas de suicídio, sentimentos de agitação, depressão nova ou agravamento, agressão e ataques de pânico.

Quanto ao uso do Canabidol, o efeito adverso mais importante é a sonolência e a interação medicamentosa com a Warfarina

Conclusão

A Associação Brasileira de Epilepsia (ABE) adverte que não há dados conclusivos sobre a eficácia do cannabidiol no tratamento das epilepsias. Embora alguns relatos de estudos, com poucos pacientes, tenham obtido resultados satisfatórios, são necessários estudos com maior número de pacientes para uma adequada avaliação da eficácia terapêutica em curto e longo prazo, assim como perfil de possíveis eventos adversos.

Em casos de epilepsia resistente a medicamento, o CBD apresenta melhora no controle das convulsões multirresistentes, além de suprimir os efeitos adversos associados aos medicamentos antiepilépticos tradicionais. 

O acompanhamento médico dos pacientes é indispensável para a análise clínica e realização de exames, que identifiquem alguma reação adversa transitória ou a necessidade de ajuste da dosagem do medicamento.

REFERÊNCIAS

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FELBERBAUM, M. FDA Approves First Drug Comprised of an Active Ingredient Derived from Marijuana to Treat Rare, Severe Forms of Epilepsy. 2018. Disponível em: https://www.fda.gov/news-events/press-announcements/fda-approves-first-drug-comprised-active-ingredient-derived-marijuana-treat-rare-severe-forms

FRANCO, Valentina; BIALER, Meir; PERUCCA, Emilio. Cannabidiol in the treatment of epilepsy: Current evidence and perspectives for further research. Neuropharmacology, v. 185, p. 108442, 2021.

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ZAHEER, Sidra et al. Epilepsy and cannabis: a literature review. Cureus, v. 10, n. 9, 2018.

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